Um vício nunca é somente um vício.
Psicanálise e Vício: Por que a Dor é a Pergunta que Importa
Como psicanalista, sou frequentemente confrontado com as manifestações mais profundas da psique humana. Entre elas, o vício se destaca como um enigma complexo que, muitas vezes, é tratado de forma superficial — focando apenas na compulsão e ignorando suas origens emocionais.
O que a dor tem a ver com o vício?
Uma abordagem profunda e humanizada é oferecida por Gabor Maté, médico e especialista em traumas e vícios, que afirma:
“A dor é o tema central de um vício. Só quem está em grande dor deseja anestesiá-la. Então, não pergunte por que o vício. Pergunte o porquê da dor.”
Essa visão nos convida a olhar o vício sob uma nova perspectiva: não apenas como um comportamento compulsivo, mas como a expressão de feridas emocionais e traumas psíquicos não elaborados.
O que está por trás do comportamento compulsivo?
A psicanálise revela que até os comportamentos mais autodestrutivos são tentativas inconscientes de lidar com conflitos internos, dores reprimidas e vazios existenciais.
Muitas vezes, o vício é interpretado como fraqueza de caráter. No entanto, essa visão ignora as camadas mais profundas da subjetividade humana. Pergunte-se:
- O que leva alguém a buscar um comportamento autodestrutivo?
- De que dor essa pessoa quer se livrar?
- Que feridas ela carrega?
O alívio como tentativa de sobrevivência emocional
O vício pode ser uma forma de alívio psíquico, uma tentativa desesperada de silenciar um sofrimento profundo. Seja através de drogas, álcool, jogo, comida, sexo ou autolesão, a busca não é pelo prazer em si, mas pelo alívio da dor que muitas vezes nem é plenamente consciente.
As raízes inconscientes do sofrimento
Essa dor pode nascer da não aceitação de si mesmo, de escolhas impostas ou de traumas passados. O indivíduo adicto não é fraco ou moralmente falho, mas alguém que, de maneira disfuncional, tenta sobreviver à própria angústia.
Da culpa à compaixão: um novo olhar para o vício
Em vez de perguntar “por que o vício?”, somos convidados a refletir: “por que a dor?”. A resposta está na história de vida da pessoa, em suas feridas emocionais e necessidades não atendidas.
Esse olhar exige empatia e compreensão — tanto dos profissionais quanto do próprio sujeito. Reconhecer a dor é o primeiro passo para uma transformação real.
O papel da psicanálise no tratamento do vício
A jornada de recuperação passa por confrontar e elaborar essa dor psíquica. O processo psicanalítico oferece um espaço seguro, onde o sujeito pode nomear suas dores e ressignificar sua história.
Como psicanalistas, temos a responsabilidade de:
- Oferecer um ambiente de escuta profunda;
- Reconhecer padrões inconscientes de repetição;
- Promover a elaboração emocional e simbólica do sofrimento.
Conclusão: mudar a pergunta, mudar o caminho
Que possamos abandonar o julgamento e abraçar a pergunta essencial: “Por que a dor?” — como propõe Gabor Maté. Ao fazermos isso, abrimos caminho para um tratamento mais humano, profundo e verdadeiramente transformador.
Psicanálise e vício não devem ser temas separados, mas integrados em uma abordagem que reconheça a complexidade da dor emocional. A cura começa quando olhamos para a história por trás do sintoma.
Luciano Grenga é psicanalista, terapeuta e autor do livro "Você Não é a Sua Mente, mas Ela é Sua". Com uma formação sólida em Psicanálise (Freud, Lacan, Jung), Neurociências e PNL, ele tem ampla experiência em auxiliar pessoas a lidar com questões emocionais, promovendo o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal através da psicanálise.
Atendo com terapia psicanalítica presencialmente no Jardim Prudência – São Paulo, próximo à Vila Mascote, Campo Grande, Campo Belo e Jardim Marajoara, e também online para sua comodidade.
Para saber mais e agendar sua sessão, visite www.luciano.grenga.com.br ou entre em contato pelo Instagram: @luciano.grenga.