Terapia: Ferramenta de Transformação ou Muleta Emocional?
Terapia: ferramenta ou muleta? Essa é uma pergunta cada vez mais relevante nos dias atuais. Como psicanalista, observo com preocupação a forma como muitos profissionais e pacientes têm conduzido o processo terapêutico. Em vez de ajudar as pessoas a compreenderem suas emoções, sentimentos e traumas, a terapia, em alguns contextos, tem sido usada como uma muleta emocional. O resultado? Indivíduos emocionalmente dependentes, mais isolados, egocêntricos e, por vezes, até arrogantes.
O efeito da dopamina rápida e o excesso de individualismo
A terapia como ferramenta de autoconhecimento está, infelizmente, se transformando em algo próximo a um “grupo de aceitação geral”. Isso significa que, ao invés de incentivar a confrontação com os próprios conflitos e responsabilidades, muitos caminhos terapêuticos estão reforçando um individualismo exagerado.
Essa dinâmica estimula as pessoas a ignorarem opiniões, conselhos e até o cuidado com o próximo. Em nome da satisfação pessoal imediata – o que a neurociência chama de “dopamina rápida” –, a frase “viva a sua vida!” pode se tornar um convite perigoso ao egocentrismo. Sem consciência social ou emocional, esse tipo de discurso distancia o sujeito do outro e da própria realidade.
Terapia: espaço de fuga ou lugar de encontro?
Esse cenário levanta uma reflexão importante: estamos usando a terapia para fugir das emoções ou para encontrá-las? Vivemos numa cultura que não tolera a tristeza. Assim, buscamos alívio imediato: seja por meio de remédios, seja com uma “terapia” que apenas alivia sintomas, mas não toca nas causas profundas do sofrimento.
O perigo está numa abordagem terapêutica que ensina, sutilmente, a “não se importar com a emoção” – nem com a própria, nem com a dos outros. Do ponto de vista psicanalítico, isso representa uma forma grave de repressão emocional e de enfraquecimento da empatia.
Qual é o verdadeiro propósito da terapia?
A psicanálise nos ensina que é preciso encarar emoções difíceis para amadurecer. Sentir tristeza, raiva ou frustração é parte da vida e, ao lidarmos com esses afetos, tornamo-nos mais inteiros e capazes de construir relações verdadeiras.
Quando a psicoterapia se transforma em um modelo de assistencialismo emocional, onde o sujeito transfere para o outro a responsabilidade por suas decisões, desejos e ações, perde-se a potência transformadora do processo terapêutico. O que resta é a dependência – e não a liberdade.
Terapia deve ser ponto de partida, não de fuga
É essencial que, como sociedade e como profissionais, possamos resgatar o verdadeiro objetivo da terapia: ser um espaço de escuta profunda, onde o sujeito possa elaborar significados, fortalecer sua individualidade e sua relação com o mundo.
A terapia deve ser ferramenta de reconexão – e não uma muleta emocional que sustenta o afastamento da realidade. Ela precisa nos aproximar de nós mesmos e do outro, não nos isolar em um narcisismo blindado por discursos terapêuticos distorcidos.
Equilíbrio entre bem-estar e responsabilidade afetiva
Não se trata de negar o valor do cuidado com a saúde mental, mas de questionar: estamos usando a terapia para crescer ou para evitar crescer? A verdadeira liberdade emocional não nasce da negação da dor, mas da capacidade de escutá-la, compreendê-la e transformá-la.
Então, como você enxerga esse equilíbrio entre o bem-estar individual e a responsabilidade afetiva que temos uns com os outros na terapia?
Luciano Grenga é psicanalista, terapeuta e autor do livro "Você Não é a Sua Mente, mas Ela é Sua". Com uma formação sólida em Psicanálise (Freud, Lacan, Jung), Neurociências e PNL, ele tem ampla experiência em auxiliar pessoas a lidar com questões emocionais, promovendo o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal através da psicanálise.
Atendo com terapia psicanalítica presencialmente no Jardim Prudência – São Paulo, próximo à Vila Mascote, Campo Grande, Campo Belo e Jardim Marajoara, e também online para sua comodidade.
Para saber mais e agendar sua sessão, visite www.luciano.grenga.com.br ou entre em contato pelo Instagram: @luciano.grenga.