Dar Trabalho é um Sinal de Autenticidade — e Não um Problema

“Nossa, ela foi tão boazinha, nunca me deu trabalho.” À primeira vista, essa frase pode parecer um elogio. Mas será que realmente é? Na verdade, pode ser um reflexo de uma vida marcada pela repressão emocional e pela busca por aceitação a qualquer custo. Quando alguém nunca dá trabalho, muitas vezes está apenas tentando se encaixar em padrões impostos, abrindo mão da própria autenticidade.

O que significa ser boazinha e não dar trabalho?

Ser uma pessoa “fácil de lidar”, “tranquila” ou “que não dá trabalho” pode parecer virtuoso. Mas isso geralmente envolve silenciar opiniões, reprimir vontades e evitar conflitos, mesmo quando esses conflitos seriam saudáveis e necessários para o crescimento pessoal.

A sociedade costuma recompensar o comportamento conformado, mas raramente reconhece o preço emocional que ele cobra. A verdadeira pergunta é: o que custa essa obediência constante?

O custo invisível da conformidade

Ser domesticado emocionalmente implica abrir mão de si mesmo. Quando alguém é elogiado por “não dar trabalho”, é possível que tenha aprendido a engolir sentimentos, esconder desejos e aceitar situações injustas para evitar o desconforto alheio.

• Evitar conflitos com os pais, mesmo sentindo-se injustiçado;
• Engolir sapos no trabalho para manter o emprego;
• Sufocar talentos para seguir o caminho imposto por outros;
• Anular-se em relacionamentos para evitar brigas.

Essa obediência pode parecer segurança no presente, mas no longo prazo, gera frustração, ressentimento e sofrimento psíquico.

A dívida emocional: os juros da alma

Quando dizemos que “um dia esse trabalho será cobrado com juros”, falamos de juros emocionais — o acúmulo de dor, tristeza e vazio por não ter vivido com autenticidade.

Esses juros se manifestam em:

• Ansiedade constante e sem explicação;
• Depressão silenciosa;
• Insatisfação crônica com a vida;
• Doenças psicossomáticas;
• Sentimento de não pertencimento ou de vazio existencial.

É quando percebemos que a vida que vivemos não foi, de fato, nossa.

“Nunca me deu trabalho”: elogio ou alerta?

Muitos pais se orgulham ao dizer que seus filhos “nunca deram trabalho”. Mas será que isso significa que a criança teve espaço para expressar sua individualidade?

Talvez essa criança tenha aprendido cedo a calar suas emoções, esconder suas perguntas e sufocar sua curiosidade para não decepcionar.

Educar não é criar filhos obedientes, mas preparar seres humanos autênticos. O verdadeiro trabalho da parentalidade está em:

• Acolher frustrações e birras;
• Medir limites com afeto e escuta;
• Estimular o pensamento crítico e a expressão emocional;
• Respeitar a singularidade de cada filho.

Uma criança que nunca dá trabalho pode se tornar um adulto que não sabe quem realmente é.

O poder libertador de dar trabalho

Dar trabalho não é sinônimo de rebeldia destrutiva, mas de autenticidade. É um ato de coragem ser quem se é, mesmo quando isso incomoda ou desaponta expectativas.

Dar trabalho é:

• Questionar o inquestionável: Não aceitar tudo sem refletir.
• Defender seus valores: Posicionar-se diante de injustiças.
• Buscar sua felicidade: Seguir seus sonhos, não os dos outros.
• Expressar emoções: Falar o que sente com clareza e verdade.
• Assumir sua individualidade: Ser quem você é, sem máscaras.

Sim, dar trabalho pode gerar conflitos. Mas também abre caminho para relações mais verdadeiras, escolhas mais conscientes e uma vida com propósito.

Conclusão: você tem dado trabalho?

Reflita: você sempre foi “boazinha” e “não deu trabalho”? Se sim, talvez seja hora de se reconectar com a sua essência e começar a se permitir ser mais você. Dar trabalho pode ser o maior sinal de que você está finalmente vivendo sua própria vida — com coragem, verdade e liberdade.